Primeira plataforma de pesquisas do Brasil no centro da Antártica, o módulo científico Criosfera 1 completou seu primeiro ano dia 12 de Janeiro.
 
Uma expedição concluída anteriormente e tendo como um dos integrantes o Prof. Heitor Evangelista (IBRAG/UERJ), marcou o momento com a instalação de novos equipamentos e a manutenção técnica da estrutura, totalmente automatizada, sem acompanhamento humano constante e movida a energia eólica e solar. 
 
“O Criosfera 1 é um programa significativo porque, em termos de América Latina, não se tem algo semelhante”, destaca o secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luiz Antonio Elias. “O módulo trará resultados positivos para todos aqueles parceiros que contribuem de forma decisiva para transformar a Antártica numa região de pesquisa, pensando o desenvolvimento da ciência e a sustentabilidade do planeta.”
 
De acordo com o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT da Criosfera), Jefferson Simões, o módulo abriu uma nova fase no Programa Antártico Brasileiro (Proantar), ao adentrar o continente de forma duradoura. “O interior da Antártica é um grande laboratório devido ao seu isolamento. O lugar mais limpo do planeta Terra é lá dentro”, explica.
 
A coordenadora para Mar e Antártica do MCTI, Janice Trotte Duhá, define a região como sentinela da mudança climática global. “O Criosfera 1 confere importante projeção geográfica do campo de atuação do Proantar, permitindo a expansão da pesquisa científica em uma série de áreas de conhecimento, tais como geologia, geofísica, glaciologia e ciências da atmosfera, em termos gerais”, afirma.
O módulo envia dados por satélite ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTI), que analisa efeitos de gases poluentes gerados na América do Sul e em outras partes do mundo sobre o continente gelado. Recentemente, a estação do Criosfera 1 passou a integrar a Rede Meteorológica Mundial e a rede do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet/Mapa). “Ou seja, o Brasil agora tem uma estação oficial a 84 graus [de latitude] sul”, diz Simões. “Então, pode-se imaginar que o país tem cobertura de lá até o norte de Roraima.”
A expedição encerrada na semana passada permaneceu um mês na Antártica – 21 dias no acampamento do próprio Criosfera 1, posto latino-americano mais próximo do Polo Sul geográfico, onde temperaturas de 25 graus Celsius (ºC) negativos são comuns em dezembro e janeiro, meses de verão. Formaram toda a equipe os pesquisadores Heitor Evangelista, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Marcelo Sampaio e Heber Passos Reis, do Inpe, e Franco Villela, do Inmet.
 
Desafio logístico
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Instalado a 2,5 mil quilômetros ao sul da área da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), o Criosfera 1 fica numa localidade com temperatura média de -32ºC, mas, no auge do último inverno polar, os termômetros registraram -65ºC. “Quando entramos na Antártica, encaramos um ambiente muito mais agressivo que o da EACF, cuja temperatura gira em torno de -2,8ºC”, explica Simões. “Tivemos que comprar roupas e barracas especiais e ter uma alimentação mais energética. Vivemos em acampamentos, em cima da neve, isolados.”
 
Para chegar ao módulo, os pesquisadores ainda enfrentam uma maratona de deslocamento. “Nós não podemos chegar de navio ao interior da Antártica”, comenta Simões. “Então, a gente vai de transporte aéreo, contratado internacionalmente. Primeiro, com um avião cargueiro, que aterrissa no gelo, com rodas, a 500 quilômetros do Criosfera 1. Depois, a gente completa o trajeto em avião com esqui, adaptado para pistas de neve.”
A manutenção anual do módulo, segundo Janice, depende da contratação de serviços no mercado internacional. “Pela relevância que tem para a ciência antártica brasileira, o projeto mereceria ser mais bem apoiado do ponto de vista logístico-operacional”, aponta.
 
O módulo é uma ação do INCT da Criosfera, com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI) e apoio da Secretaria Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm), da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e do Instituto Antártico Chileno. O Inpe desenvolveu, integrou e testou toda a infraestrutura do Criosfera 1. “Essa participação da comunidade científica brasileira mostra que o país atingiu certa maturidade”, afirma Simões.
 
Texto: Rodrigo PdGuerra – Ascom do MCTI  (Editado)
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