Uma das grandes preocupações mundiais, a camada de ozônio é o eixo temático  central de pesquisa da área de desenvolvimento sustentável na qual a UERJ tem participação expressiva. Cientistas estudam as variações da camada há décadas, na tentativa de compreender as causas de sua destruição e recuperação.   

   Em 1982, pesquisadores da British Antartic Surveyverificaram, pela primeira vez, a redução de 20% da camada de ozônio sobre a Antártica. Outras medições foram realizadas nos anos seguintes e, em 1988, 50% do ozônio estratosférico do continente gelado havia desaparecido. Investigações constataram que os produtos feitos com clorol uorocarbonetos (CFCs) – antes usados como aerossóis e gases para refrigeração – eram os principais agentes da grande falha na camada de ozônio, que seguia aumentando consideravelmente.

 

   Depois da assinatura do Protocolo de Montreal (1987), que propôs a redução do uso de CFCs, o buraco está se reduzindo gradualmente, com a perspectiva de que em 2080 a camada de ozônio na Antártica 
volte aos níveis da década de 1950.Enquanto isso um grupo de pesquisadores desenvolve outra hipótese: de que a recuperação da camada de ozônio na Antártica pode aquecer ainda mais a região e influenciar todo o clima do planeta. Em meio a esse paradoxo uma questão é certa: estudos já comprovaram que o buraco de ozônio não é um fenômeno isolado, exclusivo do continente gelado: “Hoje temos outro conceito. Ao contrário do que se imaginava, o buraco de ozônio tem implicação no clima de outros locais. A mudança dos padrões do vento causada por esse fenômen o acaba tendo um grande rel exo nos trópicos”, informa o professor da UERJ Heitor Evangelista da Silva, responsável pela criação do módulo brasileiro que estudará os efeitos climáticos do buraco de ozônio na Antártica. A pesquisa é inovadora para o Programa Antártico Brasileiro – Proantar (que existe há mais de 20 anos) porque vai instalar o primeiro módulo independente e autossustentável no continente antártico, com a presença humana sendo necessária somente para manutenção dos equipamentos. O Criosfera 1, como é chamado o contêiner, será o módulo mais avançado do ponto de vista geográfico segundo o professor Heitor Evangelista. A equipe 
da pesquisa – que participa do Proantar desde 1986 trabalhando na estação brasileira Comandante Ferraz, localizada na latitude 62º Sul – vai instalar a unidade na latitude 85º Sul, em local de difícil acesso e com temperaturas ainda mais baixas.

   O Criosfera 1 será um laboratório autônomo, equipado com painéis solares e turbinas eólicas que mantêm a energia, o que permite a autossui ciência elétrica. Na sua fabricação foi utilizado o mesmo tipo de alumínio empregado em aviões, que resiste a condições climáticas extremas. Todos os equipamentos usados na 
construção do módulo foram testados para suportar temperaturas inferiores a 50º negativos. 
Os dados obtidos pelo contêiner serão enviados via satélite e o coordenador da pesquisa explica que isso permitirá identificar todo o funcionamento do módulo: “Poderei abrir o meu computador e ver se 
tudo está funcionando corretamente, se uma turbina quebrou, se o painel parou de funcionar, se alguma bateria descarregou.

   Porque todos os dados de voltagem serão transmitidos por satélite”, explica. O próximo passo será a instalação de uma câmera de vídeo para também enviar imagem via satélite e assim auxiliar na 
monitoração do equipamento.

   Além dos vários equipamentos que farão medições atmosféricas e de gases do efeito estufa, avaliando quais os efeitos climáticos do buraco de ozônio, o Criosfera 1 terá duas outras funções. Como muitos cientistas utilizam a técnica ‘testemunho de gelo’, na qual uma amostra de gelo cristalizado durante anos contém 
bolhas de ar que registram a atmosfera do passado é recolhida por meio de um cilindro, o projeto vai permitir fazer medições simultâneas da atmosfera e do gelo depositado. “Podemos reconstituir o passado usando o testemunho, mas não sabemos exatamente que fração da atmosfera ele é capaz de enxergar. Precisamos então fazer medidas simultâneas da atmosfera e do gelo que é depositado, denominado calibração do testemunho de gelo. Naquele ‘cilindro’ existe uma história climática presente e, para a entendermos, é preciso identii car a relação da atmosfera com o testemunho”, esclarece o professor 
Heitor Evangelista.


   A outra função do Criosfera 1 será funcionar como uma plataforma de pesquisa para projetos futuros. O professor explica que no gelo da Antártica existe uma série de micro-organismos com características distintas porque vivem em condições extremas. Os extremói los, como são chamados, produzem enzimas capazes de mantê-los vivos em baixas ou altas temperaturas, preservando seu tecido biológico.  “Esses extremói los podem nos dar informações sobre processos biotecnológicos. O sequenciamento de DNA, por exemplo, só foi possível devido a uma enzima denominada Taq polimerase obtida de uma bactéria encontrada em  vulcões. Muitas ferramentas tecnológicas modernas necessitam de conhecimento que alguns organismos já aprenderam durante a evolução da terra.

   As bactérias da Antártica são muito especiais nesse sentido. Outros grupos além de nós, principalmente aqueles ligados à área de biotecnologia, vão poder utilizar nossa base de pesquisa”, diz o coordenador do projeto. “O mais importante dessa experiência é o desenvolvimento de uma tecnologia que poderá ser aplicada em outras circunstâncias, porque se funciona na Antártica – que tem as condições mais extremas do mundo e é o melhor laboratório natural que existe – vai funcionar em qualquer lugar”, completa.

   Além de desempenhar essas funções importantes o Criosfera 1 vai servir como ponto de estudo para astrofísicos, devido à qualidade do local para observação do céu: o centro da Antártica tem as condi-
ções perfeitas para fazer observação do céu e estudar astrofísica. 

   Toda a missão tem custo estimado em R$ 2 milhões e possui i nanciamento do CNPq e do Ministério de Ciência e Tecnologia. A UERJ conta com a colaboração de pesquisadores  do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, que está dando suporte para a construção do módulo principalmente nas partes de 
mecânica e eletrônica, e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

   Da equipe do projeto participam ainda dez bolsistas da Universidade. O módulo, que será instalado em dezembro de 2011, sairá do Brasil para a cidade de Punta Arenas, no extremo sul do Chile. De lá, será transportado até a latitude 80° Sul por um avião cargueiro russo. Um trator o colocará em um trenó especial que o levará até o seu destino. A equipe do projeto pretende fazer a manutenção do equipamento apenas no verão, quando as temperaturas melhoram, ficando em aproximadamente 17º abaixo de zero.