Junto com Colômbia e Peru, o Brasil está entre os três países com a maior diversidade de aves e é o primeiro país em espécies ameaçadas de extinção: 128, além de registrar uma espécie já considerada extinta – o Mutum-do-Nordeste, segundo dados da associação BirdLife International.

   O Laboratório de Ecologia de Aves está ligado ao Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, e segundo a sua coordenadora, professora Maria Alice Alves, apenas no estado do Rio existem cerca de 800 espécies, quase a metade das 1.800 registradas no país, conforme dados da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil. Ainda que o Rio de Janeiro seja região privilegiada em termos de biodiversidade de fauna e flora, existem hoje 82 espécies de aves ameaçadas, o maior número verificado nas Américas.

 

   Na tentativa de contribuir para a mudança dessa situação, o laboratório da UERJ está investindo em estudos das espécies endêmicas da Mata Atlântica: “Se não houver uma ação rápida para proteger as aves no seu habitat corremos o risco de perdê-las em pouco tempo. Por isso é importante investir em estudos que verifi quem o grau da ameaça, já que são poucas ou quase inexistentes pesquisas sobre as espécies, inclusive informações elementares como identificação, formas de reprodução, abundância e densidade populacional”, alerta a professora. O estudo das aves ameaçadas do estado tem auxílio da Faperj, via programa Cientista do Nosso Estado, que inclui palestras em escolas públicas: “Alunos e professores são agentes multiplicadores.

   Por isso sempre repito aos meus alunos que hoje a ciência não cabe mais apenas para cientistas. Temos que traduzir para a comunidade e
para as autoridades o conhecimento gerado pelas pesquisas científicas”, defende a professora.

   Criado em 1995, o laboratório teve a chance de ser um dos pioneiros em estudos na Ilha Grande, que faz parte do bioma de grande diversidade biológica da Mata Atlântica, no início das atividades do Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (CEADS). “Focamos em estudos de longa duração para registrar padrões. Hoje temos resultados de 15 anos de amostragens mensais que geraram conhecimento sobre aves em diferentes tipos de ambiente, ao analisar a flutuação dessas populações ao longo do ano. Investimos bastante na Ilha Grande também em formação profissional, com cursos para alunos de graduação e pós-graduação”, explica a professora. Os estudos na Ilha Grande integram o projeto Ecologia de Populações, Diversidade e Conservação de Aves na Mata Atlântica, do CNPq, coordenado por Maria Alice. Outro projeto do Laboratório estuda uma espécie ameaçada globalmente de extinção, o Formigueiro-do-litoral, endêmica de restinga, com distribuição restrita ao longo da restinga de Massambaba, no interior do estado. Segundo a professora havia pouca informação sobre o Formigueiro-do-litoral, cujo desaparecimento gradativo está relacionado à perda de habitat devido à urbanização das áreas de restinga.

   Em 2010, porém, depois de ações de algumas organizações governamentais e não governamentais, foi concebido um plano de ação nacional para a conservação da espécie, do qual a UERJ também participou. Por meio da equipe do laboratório, que reúne bolsistas de iniciação científi ca, mestrado, doutorado, pós-doutorado e voluntários, a Universidade está presente na implantação do corredor ecológico do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em parceria com a Embrapa, atuando no monitoramento das aves para promover durante sete anos o refl orestamento, o monitoramento do solo, da água, da fauna e da flora, bem como a educação ambiental na região da Mata Atlântica do estado. Desenvolve também investigação na Antártica com as aves predadoras Skuas, com foco na sua reprodução, ocupação, territorialidade, investimento parental, ecotoxicologia e dieta. Junto com Universidade Estadual do Norte Fluminense, o Laboratório integra outro projeto na Reserva Ecológica União, voltado para o estudo de espécies que são dispersoras de sementes potenciais em áreas de mata nativa e nas plantações de eucalipto da Reserva, usando como referência os estudos sobre regeneração da vegetação nativa desenvolvidos da UENF. 

FonteUERJ em Questão, Pg. 2