Em junho de 2000 o mapeamento do genoma humano foi anunciado como um dos maiores avanços da ciência. Isso possibilitou à biotecnologia progressos na área de medicina preventiva, como também a evolução da genética e a popularização dos exames de DNA. Acreditava-se que esse mapeamento seria a chave para descoberta, diagnóstico e cura de doenças como câncer, diabetes e hipertensão. Mas os cientistas perceberam que o genoma – conjunto de genes de um organismo – não trouxe todas as respostas esperadas, uma vez que os processos orgânicos são dependentes de outras substâncias, como as proteínas, responsáveis pelo funcionamento das células. Ao contrário dos genes, constantes em toda a fase de nossas vidas, as proteínas sofrem alterações ocasionadas por estímulos externos como estresse nervoso e ação de medicamentos ou de acordo com os ambientes aos quais o indivíduo está exposto. O estudo das proteínas, denominado proteoma (o equivalente protéico do genoma) é considerado pelos especialistas uma evolução para a compreensão da biologia humana. A análise da natureza dinâmica dessas proteínas, denominada proteômica, requer um conjunto de tecnologias de ponta, com aparelhos de alto custo e profissionais capacitados.
    
   Na UERJ, o trabalho nessa área é desenvolvido no âmbito do Laboratório de Micologia Celular e Proteômica, que se concentra na realização de estudos sobre doenças infecciosas e tem como linhas de pesquisa o desenvolvimento de testes moleculares e imunoquímicos para diagnóstico de infecções fúngicas; a utilização de tecnologias proteômicas para o estudo da biologia celular dos fungos patogênicos  Sporothrix schenckii (esporotricose), Candida glabrata (candidíase) e Aspergillus fumigatus (aspergilose invasiva); e os estudos da interação de  A. fumigatus com células endoteliais humanas. Dentre essas investigações, a aspergilose invasiva é um dos destaques da unidade proteômica da Universidade. O objetivo é prospectar um marcador para diagnóstico precoce da doença, causada por um fungo (aspergillus) disperso no ar, que em pessoas saudáveis pode originar, no máximo, um quadro de sinusite e alergia.
   Em pacientes com neutropenia profunda e prolongada (diminuição no número de neutróilos – células responsáveis pela defesa ou imunidade inata do organismo), o fungo é responsável por infecções cujo índice de mortalidade chega a mais de 70%, mesmo em pacientes tratados, como informa Leila Lopes Bezerra, coordenadora do Laboratório e vice-diretora do Instituto de Biologia. Homens e mulheres de unidades hematológicas que realizaram transplante de medula óssea ou apresentam quadro de leucemia aguda fazem parte do grupo de risco. “Em geral, o tempo decorrido entre a infecção invasiva causada pelo A. fumigatus até a morte é de apenas duas semanas. Trata-se de umadoença grave e de curso rápido, ainda sem método de diagnóstico precoce. Por isso, quanto mais cedo pudermos diagnosticar, mais rápido o paciente poderá receber a terapia antifúngica, fazendo com que a possibilidade de sucesso no tratamento seja maior”, explica a professora.
   Outra doença pesquisada na unidade proteômica da UERJ é a esporotricose – micose subcutânea causada pelo fungo sporothrix. Desde 1998, o estado do Rio passa por um surto epidêmico da doença e, segundo a 
professora Leila, a incidência de casos está aumentando. Nesse contexto, alguns pacientes apresentam formas mais graves da enfermidade, chamadas de formas extra-cutâneas. A esporotricose também atinge animais e sua transmissão é feita por inoculação traumática, ou seja, o indivíduo pode contrair a doença com o arranhão de um gato infectado (transmissão zoonótica), por exemplo.
 
   Estudos realizados na Espanha em 2007 descobriram cinco espécies patogênicas. A unidade proteômica da UERJ em conjunto com a Universidade Federal de São Paulo – Unifesp e  i nanciamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – Fapesp, analisa três dessas espécies que circulam no Brasil:  S. schenckii,  S. brasiliensis e S. globosa. As análises tem como objetivo descobrir antígenos para cada um desses fungos: “Trabalhamos com cepas (isolado do fungo) de diferentes regiões fazendo o que chamamos de imuno proteômica, ou seja, o mapa proteômico do fungo reconhecido por anticorpos do hospedeiro. Mapeamos antígenos incubando com soro de pacientes que possuem as diversas formas de doença”, diz Leila Bezerra. Uma parceria com o setor de micologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto estáprospectando um novo método de diagnóstico sorológico desenvolvido no Laboratório.
   Por meio dessas investigações, o Laboratório de Micologia Celular e Proteômica – que conta com equipamentos de última geração e com a participação de cerca de 14 pessoas, entre pesquisadores de pós-doutorado, doutorandos, mestrandos e bolsistas de iniciação científica, assistidos por dois servidores 
técnico-administrativos – pretende contribuir para a descoberta de métodos diagnósticos e de prospecção de doenças e, assim, para a evolução da saúde pública no Rio de Janeiro e em outras regiões do Pais.
 
Trabalho em rede
   A Rede Proteômica (Proteoma-Rio) foi criada em 2001 pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio de Janeiro para desenvolver pesquisas na área. Recebeu apoio da Faperj e aproveitou o conjunto de laboratórios e a experiência de pesquisadores especializados em química de proteínas existentes 
em diferentes instituições da cidade, entre aas quais a Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz; a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF;  e a Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. A UERJ foi incorporada à Rede cinco anos depois, em 2006, junto com o Instituto Nacional de Câncer – INCA. 
   Hoje, a Rede tem como parceiras a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, a PUC Rio e a unidade de ressonância magnética da UFRJ. Apesar de existirem no País outras unidades que estudam química de proteína, a Proteoma-Rio é a única que desenvolve trabalhos em rede, 
de forma conjunta, na qual cada unidade desenvolve sua própria linha de pesquisa e abordagem 
metodológica.
   A Rede se efetivou por meio da troca de experiências e conhecimentos técnicos entre os grupos, que também compartilham estratégias de formação de recursos humanos, com os aparelhos de cada unidade à disposição dos integrantes da Rede.A Universidade teve reconhecida a sua contribuição para as pesquisas na área da proteômica com a eleição por unanimidade, em maio deste ano, da professora Leila Lopes Bezerra para o cargo de coordenadora geral da Rede para o período 2011-2013. Segundo a professora, “o reconhecimento é do esforço de toda a equipe da UERJ e da evolução do Instituto 
de Biologia, que está se desenvolvendo de modo empreendedor”.