Danielle Kiffer

Estudante recebe informações sobre a medula óssea e a importância da doação de sangue durante visita ao Espaço Ciência e Vida   Hospitais e serviços de hemoterapia do Brasil quase sempre estão com seus estoques de sangue em baixa pela falta de doadores disponíveis. Diversas campanhas tentam mobilizar a população para um ato que é relativamente simples: basta encarar o medo da agulha e nada mais. Não faz mal à saúde, garantem os especialistas, mas faz um bem danado ao coração a sensação de salvar uma vida. Na prática, é isso o que acontece. Para sensibilizar os jovens e diminuir o problema da falta de informação acerca do assunto, incluindo doação de medula óssea, o médico Luís Cristóvão de Moraes Sobrino Porto, coordenador do Laboratório de Histocompatibilidade e Criopreservação (HLA) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), desenvolveu o projeto “Ciência – Sangue e Cidadania” em conjunto com o Hemorio e com o Espaço Ciência Viva (ECV) – um museu participativo de ciências situado nas proximidades da Praça Saens Peña, no coração da Tijuca. O estudo é financiado pela FAPERJ, por meio do edital Difusão e Popularização da Ciência e Tecnologia no Estado do Rio de Janeiro.

 
   As estatísticas não são muito animadoras. Segundo dados do Ministério da Saúde, apenas 1,32% dos moradores do Rio de Janeiro doou sangue no primeiro trimestre de 2007, quando o ideal é que este percentual fosse de 3% a 5%, conforme os parâmetros da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, em todo o País são coletadas por ano 3,5 milhões de bolsas de sangue, quando o ideal seriam 5,7 milhões.

   Quando se trata de doação de medula óssea, a questão torna-se um pouco mais complicada por conta da dificuldade de compatibilidade. Esta dificuldade é um dos pontos explorados no projeto e é demonstrada aos alunos de escolas públicas, de ensino fundamental e médio, que visitam o Espaço Ciência Viva. Por meio de um jogo, conhecido como “Senha”, que consiste em descobrir a combinação de cores e a ordem que elas estão, pré-determinadas pelo organizador, os estudantes passam a entender melhor como funciona o esquema de compatibilidade e o sistema do Registro Brasileiro de Doadores de Medula Óssea (Redome).

   No caso de não existir um doador aparentado (um irmão ou outro parente próximo, geralmente um dos pais), a solução para o transplante de medula é procurar um doador compatível entre os grupos étnicos (brancos, negros, amarelos etc.) semelhantes, mas não aparentados. Para reunir as informações (nome, endereço, resultados de exames, características genéticas) de pessoas que se dispõem a doar medula para o transplante, foi criado, em 2000, o Redome, instalado no Instituto Nacional de Câncer (Inca). Dessa forma, com as informações do receptor, que não disponha de doador aparentado, busca-se no Redome um doador cadastrado que seja compatível com ele e, se encontrado, articula-se a doação.

   De acordo com dados do Redome, o número de doadores voluntários de medula óssea tem aumentado expressivamente nos últimos anos. Em 2000, existiam apenas 12 mil inscritos. Naquele ano, dos transplantes de medula realizados, apenas 10% dos doadores eram brasileiros localizados no Redome. Agora, há 1,6 milhão de doadores inscritos e o percentual subiu para 70%. O Brasil tornou-se o terceiro maior banco de dados do gênero no mundo, ficando atrás apenas dos registros dos Estados Unidos (5 milhões de doadores) e da Alemanha (3 milhões de doadores).

   A evolução no número de doadores de medula óssea deveu-se aos investimentos e campanhas de sensibilização da população, promovidas pelo Ministério da Saúde e órgãos vinculados, como o Inca. Essas campanhas mobilizaram hemocentros, laboratórios, ONGs, instituições públicas e privadas e a sociedade em geral. Desde a criação do Redome, em 2000, o Sistema Único de Saúde (SUS) já investiu R$ 673 milhões na identificação de doadores para transplante de medula óssea. Os gastos crescerem 4.308,51% de 2001 a 2009. 

   Mas apesar dos avanços, ainda é fundamental contar com a apoio da população para aumentar o número de doadores de medula. Segundo Luís Cristóvão, fora de seu ambiente familiar, um paciente que precisa de doação de medula óssea tem chance de encontrar um doador compatível a cada cem mil pessoas. No Redome, há cerca de 1,9 milhão de doadores registrados. “Este número ainda está longe do ideal", destaca o médico.

   No Espaço Ciência Viva, todas as semanas, alunos de escolas da rede municipal e estadual também podem ver, por meio de microscópio, as células sanguíneas obtidas do interior de um osso de boi. “Desta forma, eles podem visualizar e entender melhor as células que formam o sangue e que estão na medula óssea. Eles ficam muito empolgados com esta experiência”, conta. A extração dessas células-tronco, geralmente, é feita a partir do osso da bacia. “Nesta localidade, mesmo depois da idade adulta, essas células originam novas células-tronco, além das células do sangue”, explica o médico.

  Além disso, é exibido um vídeo com depoimentos de pessoas que sofreram acidentes, precisaram de doações e tiveram suas vidas salvas. “Os alunos ficam muito estimulados a doar depois de ver como é real a necessidade da doação de sangue e a grande diferença que esta atitude traz na vida de uma pessoa”, justifica.

  A equipe tem mais planos para o projeto em 2011. No próximo ano, eles pretendem montar no Espaço Ciência Viva uma artéria gigante, preservando as características originais, em uma espécie de túnel, para que o aluno possa entrar e conhecer melhor este lado da biologia.

   O Espaço Ciência Viva fica localizado a Avenida Heitor Beltrão s/nº, perto da Praça Saens Peña, bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio. Escolas interessadas em visitar o museu podem agendar pelo telefone 2204-0599, das 9h às 14h. Mais informações: http://www.cienciaviva.org.br/
 
Fonte: FAPERJ