Danielle Kiffer
 
Borboletas formam belos exemplares de simetria, tanto nos desenhos geométricos quanto no contorno das asas   Existe uma relação entre a estética presente na arte e os números e teorias científicas mais estreita do que se imagina. E não é necessário ser um especialista em nenhuma das duas áreas para perceber esta conexão. É o que pretende mostrar o pesquisador Antonio Carlos de Freitas, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Ele e mais uma equipe multidisciplinar, formada por biólogos, químicos, físicos e fotógrafos, revelam as belezas da natureza em detalhes através de fotografias, e, por meio das fotos, analisam as formas e padrões geométricos encontrados. O trabalho faz parte do projeto "Arte e ciência das formas e padrões da natureza", apoiado pela FAPERJ, por meio do edital de Produção e Divulgação das Artes.
 
   "A arte e a ciência sempre caminharam juntas. Um grande exemplo de artista-cientista é Leonardo da Vinci, que em muitas de suas obras representou a arte por meio da ciência e vice-versa. Um de seus trabalhos mais conhecidos, o Homem Vitruviano, um desenho feito pelo renomado pintor mostra a estética do corpo humano associada a suas proporções, baseada em cálculos matemáticos", conta o físico Antonio Carlos. O projeto reforça também que a beleza não é apenas um conceito que transita através dos tempos. O belo pode estar intimamente ligado à simetria. E, pelas fotos feitas por membros da equipe, pode-se perceber que as formas geométricas são abundantes na natureza.
 
   Numa das fotos que fazem parte da exposição, as borboletas aparecem como belos exemplares de simetria, tanto nos desenhos geométricos quanto no contorno das asas. Todas essas características são analisadas separadamente, mas, vistas como um todo, representam a beleza que encanta nossos olhos. "A explicação para a simetria das borboletas e suas formas geométricas é a mesma que para todos os seres, inclusive o próprio homem. Somos simétricos por fora. Se passarmos uma linha imaginária que nos corte ao meio, teremos uma metade exata de nós, de cada um dos lados desse eixo. Somos simétricos e apreciamos o que é simétrico. Na biologia, muitos animais escolhem seus parceiros atraídos pela simetria. Ter os dois lados iguais pode significar boas condições de saúde. Um animal que não seja tão simétrico quanto os outros de sua espécie poderia indicar uma má formação devido a problemas genéticos ou doenças e pode, por essa razão, ser rejeitado pela fêmea, que quer o melhor para sua prole", explica a bióloga Márcia Franco, integrante da equipe.
 
Ao comer, a lagarta da Mata Atlântica cria desenhos simétricos na folha
 
Entretanto, não é só na simetria que a beleza é inconscientemente captada por nossos olhos. Quem nunca se encantou com a imagem de um girassol, por exemplo? O que muitos não sabem é que toda a exuberância estética da flor está intimamente ligada à matemática. "Nos girassóis, as sementes na corola são geralmente dispostas num padrão espiral que se relaciona com os números da série de Fibonacci. Da mesma forma, a proporção entre o número de abelhas fêmeas e machos em qualquer colmeia é de 1,618, assim como a proporção de crescimento do raio no interior da concha de um caramujo nautilus. E se repete no número de segmentos da superfície de uma pinha, na proporção das medidas das pirâmides do Egito e até na métrica dos poemas de alguns poetas romanos", explica Freitas
 
   O próximo passo do físico e sua equipe é produzir uma exposição aberta ao público no Centro de Visitantes do Jardim Botânico, prevista para ter início em agosto. "A ciência é feita através da observação. Portanto, na mostra, exibiremos fotos que revelem os padrões observados não apenas em asas de pássaros e borboletas, mas também em cascas de frutos, nas marcas observadas em leitos de rios e praias. São tanto formas simétricas quanto assimétricas, circulares ou triangulares, padrões e texturas. Fizemos as fotos de forma a ressaltar esses aspectos, bem como procuramos contextualizá-las do ponto de vista artístico e científico", falam os pesquisadores.
 
interação inseto-planta: a planta produz grande quantidade de tecido vegetal ao redor de uma larva de inseto parasita   Paralelamente, a mostra também será levada às escolas. "Itinerante, ela também terá uma característica mais didática, com textos explicativos em cada painel de imagens. Pretendemos que um representante de nossa equipe esteja presente na abertura de cada evento nas escolas para tirar dúvidas e interagir com os alunos", diz Marcia. "Esperamos com isso fazer um trabalho de divulgação científica por meio da fotografia, promovendo uma maior aproximação entre essas duas formas de ver o mundo", acrescenta. Para os pesquisadores, o objetivo é um só: fazer com que, ao observar a imensa beleza dos padrões matemáticos encontrados na natureza, o visitante também sinta despertar seu interesse pela ciência.
 
Fonte: FAPERJ