Organizadores:
Elvira Carvajal
Patrícia F. C. de Moraes
Olinto A. Pegoraro
 
   É do propósito da coleção Bioéticas em Temas trazer tanto ao público em geral como a especialistas, a dualidade entre conhecimentos biológicos e valores humanos, dentro das mais variadas posturas e juízos profissionais na área biomédica. E o primeiro trabalho desta coleção é o título Células-tronco e eutanásia: potencialidades e limites, de Elvira Carvajal, Olinto A. Pegoraro e Patrícia F. C. de Moares. Esta obra é produto de discussões diversas apresentadas em um ciclo de conferências sobre os limites e potencialidades das células-tronco e da eutanásia, promovido pela Comissão de Ética em Pesquisa da Sub-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da UERJ.
   Na primeira parte é discutida a defesa da ética nas pesquisas envolvendoseres humanos. O artigo Controle Social na Proteção dos Sujeitos de Pesquisa, de Corina de Freitas, nos expõe os riscos ligados a pesquisas, os quais abrangem não somente a coleta de materiais biológicos como também a evasão de informações pessoais e seu conseqüente dano moral. Além disso,podemos citar outros riscos, como o atraso ou a interrupção de tratamentos.
   Na segunda parte, são desenvolvidas questões envolvendo o uso de células-tronco, tais como: em que momento a existência humana é definida e aceita como pessoa? Na implantação do zigoto no útero ou no momento do nascimento com vida? Cientificamente, o que é a vida, e quando ela começa?
Com relação ao uso de células-tronco retiradas de embrião humano - justificado pela capacidade de se transformar em células de qualquer tecido de um organismo -, há a destruição do embrião no momento de sua retirada. Isto, por sua vez, gera debates bem extensos, pois, para muitos,
o início da vida se dá no momento da concepção.
   A parte concludente se destaca pela delicada discussão ligada ao conceito de eutanásia, no caso de uma vida em fase terminal, muitas vezes dolorosa, penosa e insuportável. Alguns profissionais da área médica são favoráveis a eutanásia, a qual objetiva aliviar a dor de um paciente diagnosticamente incurável por acelerar a sua morte. Para tais médicos, qualquer tentativa de reversão de quadro clínico em enfermos nesta situação nefasta é considerada vã, ou até mesmo como uma distanásia: morte lenta e sofrente, na medida em que o paciente é submetido a sucessivos tratamentos que não lhes surtirão efeito. Já para o senso comum, entretanto, a consciência e os laços afetivos divergem da primeira tese, com a alegação de que "enquanto há vida, há esperança; e a ciência médica tem o dever incondicional de lutar pela vida". Sendo assim, o cuidado paliativo não
deveria ser negligenciado.   
 
   Enfim, vale lembrar que as mudanças éticas e legais são precedidas pelas mudanças de costumes, originados pelo surgimento de novas modalidades de organização da vida individual e coletiva. O último artigo desta terceira parte mostra como o homem hipermoderno tece estas mesmas modalidades dentro da dimensão do excesso na sociedade, bem como no modo de encarar a morte de si e de outros.
Renato Alexandre de Sousa