Pesquisa desenvolvida pela professora Thereza Christina Barja-Fidalgo, do Laboratório de Farmacologia Bioquímica e Celular do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes (IBRAG/UERJ), comprovou que as desintegrinas — proteínas isoladas do veneno de serpentes — atuam na redução da capacidade de ativação e de migração das células cancerígenas.

   Na célula sadia, o ritmo das atividades é controlado por uma programação ajustada num ciclo de ativação, proliferação e morte. Já as células cancerígenas desenvolvem mecanismos que iludem seu relógio biológico, mantendo-se constantemente ativadas. Desta forma, criam uma capacidade de sobrevivência e multiplicação diferenciada, além de alto poder de adesão aos tecidos e migração para outras regiões do organismo.

   Ao trabalhar com desintegrinas purificadas do veneno de cobras como a Bothrops jararaca (espécie comum no Brasil) e das serpentes asiáticas Agkistrodon rhodostoma e Trimeresurus flavoviridis, a professora e seu grupo observaram que estas estruturas são capazes de reduzir significativamente a proliferação e a migração de células de um tipo de melanoma, altamente metastásico em camundongos.

   "A metástase do melanoma ocorre através do sangue. Quanto mais vascularizado o órgão, maiores são as chances de as células tumorais se proliferarem, atingindo os pulmões, por exemplo", esclarece Thereza Christina. Os pesquisadores concluíram que a ação das desintegrinas diminui as chances de formação de novos tumores, além de reduzir a atividade das células do melanoma, inibindo o crescimento acelerado do tumor.  

   Embora nos experimentos com camundongos as desintegrinas tenham se mostrado promissoras na terapia antitumoral e antimetastásica, a professora diz que estas proteínas devem ser encaradas como protótipos para o desenho de novas drogas, capazes de reproduzir tais efeitos em humanos, pois sua obtenção a partir de veneno bruto ainda é cara e de pouco rendimento.