Visita da UNESCO ao Parque Botânico do Ecomuseu Ilha Grande em 2018.No último dia 5 de julho, as regiões de Paraty e  Ilha Grande receberam o título de Patrimônio Cultural e Natural Mundial da Unesco, primeiro sítio misto do Brasil. Em Ilha Grande, a UERJ possui dois importantes espaços de ensino, pesquisa e extensão universitária: o CEADS e o Ecomuseu, este abrigando o Parque Botânico. A Profa. Cátia Callado (DBV/IBRAG), que já foi Coordenadora Científica do CEADS e atualmente coordena o Parque Botânico de Ilha Grande, relata recente ação para divulgação científica e histórica realizada no Parque: a criação de aleias que homenageiam pesquisadores que deram significativa contribuição aos estudos botânicos e que tiveram ligação com a UERJ e/ou com a Ilha Grande.

Fotos: Acervo Ecomuseu

As aleias¹ do Parque Botânico ressaltam o efetivo papel da UERJ como parte da Ciência Botânica brasileira e repartem a informação contida nos muros acadêmicos com a sociedade.

As aleias propiciam a melhor localização e observação das plantas em exposição e a manutenção física dos jardins temáticos do Parque Botânico. Além disso, registram a homenagem a cinco importantes cientistas, com seus nomes, destacando nas placas de identificação, parte de suas trajetórias acadêmicas.

A escolha dos homenageados considerou a importância desses cientistas para o avanço da Ciência Botânica e a relação dos mesmos com a UERJ, seja quanto à formação, atuação e/ou constituição de acervo, e com a própria Ilha Grande. Na abordagem adotada, o universo botânico tratado deixa de ser apenas o próprio ou particular para agregar e divulgar conhecimentos extra território.

¹Aleia é uma alameda, caminho ou rua, ladeada por árvores, arbustos ou mesmo grades e estabelecida em jardins ou parques


Aleia Dr. Jorge Pedro Pereira Carauta

A aleia de entrada homenageia o Dr. Jorge Pedro Pereira Carauta, que se graduou em História Natural pela Universidade do Estado da Guanabara (UEG), atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Dr. Carauta tornou-se um renomado especialista no estudo das famílias botânicas Moraceae e Urticaceae. Além das contribuições taxonômicas, era conhecido por ser um exímio escalador e pela grande capacidade de realizar excursões científicas, desenvolvendo uma maneira própria de ensinar diretamente no campo. A localização desta aleia se deve a presença da espécie Ficus cyclophylla (Miq.) Miq. (Moraceae). A espécie é nativa da Ilha Grande, conhecida popularmente como gameleira e integra a lista de espécies brasileiras vulneráveis à extinção.

por Cátia H. Callado, Nattacha S. Moreira, Carla Y G. Manão, Marcelo F. Castilhori, Marcelo D. M. Vianna Filho, Ricardo C. C. Reis & Vivianne R. Valença (manuscrito submetido à revista INTERAGIR: pensando a extensão)


As demais aleias

  • Aleia Dra. Margarete Emmerich - leva até a Casa de Produção de Mudas do Parque Botânico. Margarete Emmerich graduou-se em História Natural pela UEG, atual UERJ. Atuou no campo da taxonomia, como especialista na família Euphorbiaceae, desenvolvendo suas pesquisas no Museu Nacional/UFRJ. Foi uma das pioneiras no estudo da Etnobotânica brasileira, sendo um de seus principais focos de estudo a etnia Yawalapiti do Alto Xingu. Contribuiu para consolidação da Etnobotânica como Ciência que, por meio do registro histórico-científico, aproxima o conhecimento científico do saber tradicional e estimula soluções e estratégias para formulação de políticas voltadas à conservação ambiental e cultural.
  • Aleia Dra. Graziela Maciel Barroso - percorre o Parque Botânico em toda a sua extensão. Esta pesquisadora, conhecida como Primeira Dama da Botânica do Brasil, também se graduou em História Natural pela UEG, atual UERJ. É reconhecida por sua excelência no estudo de grupos complexos da flora brasileira, como Asteraceae, Fabaceae e Myrtaceae. A Dra. Graziela Barroso também se destacou por intensa e contínua formação de recursos humanos, sendo a única brasileira a receber, nos Estados Unidos, a medalha Millenium Botany Award, entregue a botânicos dedicados à formação de pessoal. Desenvolveu suas pesquisas principalmente no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde atuou até os 91 anos de idade.
  • Aleia Dr. Luiz Emygdio de Mello Filho - delimita um jardim de contorno circular que expõe plantas nativas da Ilha Grande com potencial ornamental.Luiz Emygdio nasceu no município de Angra dos Reis e graduou-se em Medicina, Farmácia e História Natural. Tornou-se doutor pela UEG, atual UERJ, onde foi professor de botânica e o primeiro diretor do Instituto de Biologia, criado em 1968 (atualmente, IBRAG). Foi também presidente da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza e diretor do Museu Nacional e da Fundação Parques e Jardins. Dedicou-se ao ensino da história da botânica e do paisagismo, onde ressaltava a necessidade da utilização de plantas nativas da flora brasileira como ornamentais.
  • Aleia Dr. Luiz Emygdio de Mello Filho - delimita um jardim de contorno circular que expõe plantas nativas da Ilha Grande com potencial ornamental.Luiz Emygdio nasceu no município de Angra dos Reis e graduou-se em Medicina, Farmácia e História Natural. Tornou-se doutor pela UEG, atual UERJ, onde foi professor de botânica e o primeiro diretor do Instituto de Biologia, criado em 1968 (atualmente, IBRAG). Foi também presidente da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza e diretor do Museu Nacional e da Fundação Parques e Jardins. Dedicou-se ao ensino da história da botânica e do paisagismo, onde ressaltava a necessidade da utilização de plantas nativas da flora brasileira como ornamentais.
  • Aleia Dr. Helmuth Sick - está localizada entre os escombros do antigo presídio e os jardins temáticos do Parque Botânico. Apresenta exemplares de Erythrina speciosa Andrews (Fabaceae), conhecida como mulungu-do-litoral, que foram plantados por visitantes do Parque. Helmuth Sick foi um dos primeiros especialistas em aves tropicais e, por ser alemão, tornou-se preso político na Ilha Grande durante a 2ª Guerra Mundial. No período de reclusão, estudou espécies de aves e de invertebrados, como cupins e formigas da Ilha Grande. Após sair da prisão, naturalizou-se brasileiro e trabalhou no Museu Nacional, destacando-se por descrever de maneira aprofundada as aves brasileiras. Embora o Dr. Sick não tenha sua formação acadêmica ligada à Botânica, esta relação foi estabelecida em suas expedições científicas, onde também se dedicava à observação e amostragem das plantas, contribuindo para o conhecimento de espécies novas para a Ciência. Sua relação com a Botânica da UERJ pode ser constatada no Herbarium Bradeanum, importante acervo botânico localizado no Campus Maracanã, onde é possível encontrar os registros de algumas de suas coletas. Esta aleia representa o visitante, o que é externo à Ilha Grande, e relembra também o cárcere neste local.